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domingo, 28 de junho de 2015

Um ensaio sobre direitos, maturidade, amor e assuntos correlatos / Olavo de Carvalho / Mídia sem Máscara

http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/15920-2015-06-28-06-17-07.html


A essência da ideologia gayzista consiste precisamente em colocar o desejo homoerótico acima de todos os valores reais, possíveis e imagináveis.
A principal característica de uma sociedade doente é a ascensão de almas imaturas e atrofiadas aos postos mais altos, de onde podem impor o seu subdesenvolvimento moral e emocional como padrão normativo para uma sociedade inteira.

Todo animal cresce e se desenvolve no sentido de alcançar a realização das potencialidades máximas da sua espécie, não de qualquer outra. Esse auge é o que se chama "maturidade". Uma vaca leiteira alcança a maturidade quando se torna capaz de produzir quarenta litros de leite por dia. Um urso, quando se torna grande, pesado, forte e feroz o bastante para matar outros ursos -- fêmeas e filhotes inclusive. Umbloodhound, quando se torna capaz de seguir uma pista por cem quilômetros. A escala do desenvolvimento sexual que expus na primeira parte deste artigo (http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/15912-2015-06-23-22-29-17.html) é própria e exclusiva do ser humano. Ela é a medida de aferição da maturidade humana. Quem não chegou à última etapa está abaixo da medida humana. Pode estar evoluindo para alcançá-la ou pode estar fazendo o possível para estacionar nas primeiras etapas, tomadas fetichisticamente como se fossem a essência última do fenômeno sexual. Pode estar até se esforçando para que outros também estacionem. A característica fundamental do sociólogo mirim é o ódio à maturidade.
O que há de mais belo, nobre e elevado no ser humano é justamente o processo no qual, por transmutações sucessivas, o mais egoísta dos instintos se transfigura em bondade, generosidade, perdão e auto-sacrifício. Abdicar disso é renunciar à vocação humana e tentar competir com outras espécies animais naquilo que lhes é próprio.
Esse processo não deve ser confundido com algum pretenso “conflito entre matéria e espírito” – um chavão gnóstico que, nesta época de confusão mental estupenda, muitos tomam como cristão. O impulso evolutivo está dentro do próprio instinto sexual, que se compõe ao mesmo tempo de uma ânsia de auto-satisfação e de uma tendência incoercível à busca de um objeto. O conflito permanente entre o centrípeto e o centrífugo, entre imanência e autotranscendência é inerente à própria força sexual, e é isso que faz dela, de maneira inteiramente natural, o motor do processo evolutivo que descrevi. É patente que os sociólogos mirins não observaram suficientemente o fenômeno sobre o qual pontificam, já que nem mesmo chegam a notar a sua natureza contraditória e dialética, mas o tomam simploriamente como uma força unívoca voltada à busca de uma generalidade chamada “prazer”.
O Brasil não será um país adulto enquanto os sexólogos mirins não forem expulsos da vida pública.
O impulso sexual primário é uma pura agitação interna do organismo, uma mera urgência fisiológica que aparece sem a necessidade de nenhum excitante externo e pode ser satisfeita por mera fricção mecânica da genitália – masculina ou feminina.
Esse impulso – a libido -- é uma energia sem alvo: não vem com nenhum objeto definido, mas tem de encontrá-lo e fixar-se nele com a ajuda da emoção imaginativa, seja estética (níveis III e IV), seja moral (níveis V e VI).
O impulso sexual permanece mais ou menos o mesmo ao longo de toda a vida de um indivíduo. É como um motor que, por si, não determina o rumo do veículo, mas depende, para isso, de um piloto capaz de enxergar o terreno e escolher os trajetos. A progressiva fixação do impulso nos sucessivos objetos não o modifica em nada, apenas o integra em funções diferentes conforme o objeto que a emoção imaginativa lhe oferece vai se tornando mais sutil, mais rico e mais complexo.
A escalada de seis níveis está, em princípio, ao alcance de todos os seres humanos, mas qualquer um está sujeito a voltar a uma fase anterior, sobretudo se não logra encontrar ou possuir o novo objeto que o atrai para um “salto evolutivo” da consciência e para um novo e mais elevado patamar da experiência erótica.
É evidente que só quem percorreu o trajeto inteiro está habilitado a formar uma visão abrangente e objetiva da experiência sexual, que os outros só enxergam de maneira parcial e subjetivista – não raro solipsista – determinada pela sua fixação numa etapa que se recusa a passar.
Infelizmente, este último é o caso da maioria dos “formadores de opinião”, universitários ou midiáticos, que se oferecem gentilmente para modelar a vida sexual alheia segundo a medida do seu próprio subdesenvolvimento existencial.
***
Um exemplo característico é a tendência ou vício de denominar “amor”, indiscriminadamente, toda e qualquer expressão do desejo sexual.
Nessa perspectiva, é fácil condenar qualquer restrição às práticas sexuais mais grosseiras como um atentado contra o “amor”.
Mas é evidente que o termo “amor” só é cabível quando se fala do terceiro nível para cima. No primeiro estamos no reino da pura fisiologia, no segundo tudo não passa de reflexo condicionado. Num deles o objeto está ausente; no outro, é apenas o gatilho ocasional que dispara uma reação do organismo. Amor sem objeto é contradição de termos.
A característica mais fundamental do desejo sexual é a tensão permanente entre o impulso interno de auto-satisfação orgânica e a busca do objeto externo, o foco que o limita e ao mesmo tempo o intensifica.
No primeiro nível, a safisfação deve ser obtida da maneira mais rápida, material e direta possível. Mas o sexo é um impulso imanente que busca transcender-se. Do segundo nível em diante, a satisfação é adiada cada vez mais, em vista de um acréscimo de qualidade.
Nos dois primeiros níveis, é tudo fisiologia, nada mais. Nos niveis III e IV, o objeto é definido pela imaginação estética. Nos níveis V e VI o estético é transcendido pelo impulso moral: generosidade, proteção, compreensão, amparo, carinho etc.

Essa diferenciação de níveis é característica do ser humano, estando ausente em todas as demais espécies animais. Ela é a sexualidade propriamente humana. Nesse sentido, a escalada que vai desde a necessidade orgânica até as expressões mais elevadas do amor altruísta é a via normal e portanto normativa da vida sexual humana. Mesmo aqueles que não são capazes de diferenciar claramente os seis níveis têm uma vaga antevisão disso, como o prova o fato de que condenam as condutas sexuais egoístas – ao mesmo tempo que, paradoxalmente, chamam tudo de “amor”.

Um exemplo especialmente deprimente de sexologia infantilizada nos é fornecido pelos “formadores de opinião” que definem a pedofilia como “uma forma de amor”. Um professor de filosofia que diz que a pedofilia é "amor", como fazem os srs. Clovis de Barros e Paulo Ghiraldelli, está obviamente desqualificado para o exercício de tão séria atividade intelectual. Não por ter dito uma imoralidade. Há imoralidades que são filosoficamente valiosas (as obras de Nietzsche estão repletas delas). Nem por ter feito apologia do crime. Ele pode ter dito o que disse com puro intuito teorizante, em tese, sem desejo de incentivar. Está desqualificado por manifesta incapacidade de fazer uma distinção fenomenológica elementar. A pedofilia, pela sua estrutura mesma, nunca pode ser amor a uma pessoa, porque é fixação simbólica na sua imaturidade, isto é, numa situação cronológica passageira. As crianças crescem, tornam-se adultas e perdem interesse para o pedófilo, que tem de buscar novos objetos de prazer na mesma faixa etária dos anteriores. Por definição, a fixação erótica numa circunstância externa não é amor a uma pessoa. Na nossa escala, a pedofilia, como o fetichismo ou o sadomasoquismo, está no nível II e não tem absolutamente nada a ver com o amor – embora a convivência entre o pedófilo e sua vítima possa despertar secundariamente algum tipo de emoção amorosa, pelo menos unilaterial, como o ativista homossexual Rudi van Dantzig documentou muito claramente no seu pungente  depoimento For a Lost Soldier (The Gay Men's Press, 1996). Qualquer primeiranista de filosofia, ou melhor, qualquer cidadão inteligente sem treino filosófico, tem de ser capaz de fazer essa distinção quase instintivamente.

Outro exemplo de puerilismo é o clamor gayzista pela legalização do “casamento gay” sob a alegação de “igualdade de direitos”.

As leis do matrimônio civil ou religioso não foram feitas para proteger, exaltar e fomentar o sexo heterossexual, mas, bem ao contrário, para moderar e controlar a sua prática, às vezes drasticamente. A proposta do “casamento gay”, ao contrário, visa a legitimar, a tornar respeitável e inatacável a homossexualidade em todas as suas formas e versões, inclusive grupais, obscenas, ofensivas e públicas como aquelas da Parada Gay. O casamento tal como a sociedade o conhece há milênios é uma autolimitação voluntária do impulso heterossexual, em vista de valores mais altos. O casamento gay, ao contrário, é um salvo conduto para que uma classe de pessoas tenha um direito ilimitado aos prazeres sexuais que bem deseje, da maneira e no local que bem entenda, livre das limitações legais e morais que pesam sobre o restante da espécie humana.

(Não deixa de ser deprimentemente irônico que, numa época em que tanto se discute “maioridade penal”, esta mesma noção tenha se reduzido a uma formalidade cronológica totalmente esvaziada de qualquer referência aos traços substantivos que constituem a maioridade psicológica e moral, sem os quais ela não faz o menor sentido.)
Se existe algo como a noção de “maioridade legal”, é porque obviamente o exercício de determinadas funções na sociedade – a começar pela mais geral e disseminada, a “cidadania” -- requer a maioridade substantiva, a maturidade da alma e do espírito, da qual a maioridade legal não é senão um sinal convencional de reconhecimento.
Não obstante, desaparecida do cenário mental a noção da maioridade substantiva, o exercício de altas funções sociais se tornou compatível com a mais rasteira imaturidade psicológica. Pessoas como os srs. Clovis de Barros, Paulo Ghiraldelli, Jean Willys, Gregório Duvivier  e similares são aqueles que denomino “sexólogos mirins”: crianças crescidas que dão lições de moral aos adultos.
Um critério elementar e patente de maturidade é a atitude do cidadão para com seus próprios impulsos sexuais.
Um ser humano maduro, equilibrado e saudável não hesitará em pensar, falar e agir contra os seus mais óbvios interesses sexuais, em nome de valores que lhe pareçam mais altos. Um homossexual pode fazer isso? Pode. Karol Eller e meu aluno Alexandre Seltz, homossexuais assumidos, deram exemplo disso, ao posicionar-se contra os excessos blasfematórios do movimento gayzista. Mas a essência da ideologia gayzista consiste precisamente em colocar o desejo homoerótico acima de todos os valores reais, possíveis e imagináveis. Por isso é que digo: um homossexual pode ser uma pessoa madura, equilibrada e saudável. Um gayzista, nunca. E é por isso que os gayzistas não respeitam nada nem ninguém. Eles simplesmente não podem fazê-lo sem ter de abdicar do princípio mais básico da sua ideologia.
É quase impossível um gayzista entender isso, pois para tanto precisaria reconhecer que sua pretensão de mando é incomparavelmente maior que a dos mais empedernidos machistas conservadores e que o que ele deseja não é a “igualdade de direitos” e sim a mais cínica e prepotente desigualdade, que um adulto normalmente desenvolvido jamais exigiria.
Numa sociedade saudável, os adultos mal desenvolvidos e imaturos permanecem nas camadas mais baixas da hierarquia social, onde podem fazer relativamente pouco dano às demais pessoas. A principal característica de uma sociedade doente é a ascensão de almas imaturas e atrofiadas aos postos mais altos, de onde podem impor o seu subdesenvolvimento moral e emocional como padrão normativo para uma sociedade inteira.
Não é possível corrigir os males sociais mais graves sem devolver essas pessoas ao anonimato do qual jamais deveriam ter saído.

Publicado no Diário do Comércio.
http://olavodecarvalho.org

domingo, 20 de julho de 2014

Pra quem tem dúvidas sobre amor,relacionamento e as variáveis do complexo assunto

http://hypescience.com/amor-ou-tesao-como-descobrir-pelo-olhar/

happy-couple-love4Será que existe um “biomarcador” que pode diferenciar um caso de uma noite de uma potencial alma gêmea? 

Psicólogos da Universidade de Chicago, nos EUA, dizem que, se isso for verdade, a diferença entre amor e tesão pode estar nos olhos – especificamente, o local onde o seu parceiro ou parceira olha para você pode indicar se é o amor ou o desejo que está em jogo.
O trabalho constatou algo que, quando se para pra pensar, parece bastante óbvio: se os padrões do olhar se concentram no rosto de um estranho, o espectador vê essa pessoa como um potencial parceiro no amor romântico, mas se o espectador olha mais para o corpo da outra pessoa, ele ou ela está sentindo desejo sexual. Só que esse julgamento automático pode ocorrer em menos de meio segundo, produzindo diferentes padrões de olhares.
“Apesar do pouco que se sabe sobre a ciência do amor à primeira vista ou como as pessoas se apaixonam, esses padrões de resposta fornecem as primeiras pistas sobre a forma como os processos de atenção automáticos, como o olhar, podem diferenciar os sentimentos de amor a partir de sentimentos de desejo direcionados a estranhos”, observa a autora Stephanie Cacioppo, diretora do Laboratório de Neuroimagem Elétrica de Alta-Performance da Universidade de Chicago.
Pesquisas anteriores da cientista descobriram que diferentes redes de regiões do cérebro são ativadas pelo amor e pelo desejo sexual. Neste estudo, a equipe realizou dois experimentos para testar padrões visuais em um esforço para avaliar dois estados emocionais e cognitivos diferentes, que muitas vezes são difíceis de distinguir um do outro: o amor romântico e o desejo sexual.
Estudantes do sexo masculino e feminino da Universidade de Genebra, na Suíça, foram instruídos a ver uma série de fotografias em preto-e-branco de pessoas que nunca haviam encontrado na vida. Na primeira parte do estudo, os participantes viram fotos de casais heterossexuais jovens, adultos, que estavam olhando ou interagindo uns com os outros. Na segunda parte, os participantes observaram fotos de pessoas atraentes do sexo oposto que estavam olhando diretamente para a câmera/espectador. Nenhuma das fotos continha nudez ou imagens eróticas.
Em ambos os experimentos, os participantes foram colocados diante de um computador e foi pedido que olhassem para diferentes blocos de fotografias e decidissem o mais rápido e precisamente possível se eles consideravam que as fotografias – ou as pessoas nas fotografias – estavam provocando sentimentos de desejo sexual ou de amor romântico. O estudo não encontrou nenhuma diferença significativa no tempo que os jovens levaram para identificar escolhas de amor romântico contra as do desejo sexual, o que – os pesquisadores acreditam – mostra o quão rapidamente o cérebro pode processar ambas as emoções.
Mas as análises dos dados de rastreamento ocular dos dois estudos revelaram diferenças marcantes nos padrões de movimento dos olhos, dependendo se os indivíduos relataram sentir desejo sexual ou amor romântico. As pessoas tendem a se fixar visualmente no rosto, especialmente quando disseram que uma imagem provocou um sentimento de amor romântico. No entanto, com as imagens que evocam o desejo sexual, os olhos dos sujeitos movem-se a partir da face para se fixarem no resto do corpo. O efeito foi encontrado tanto em participantes do sexo masculino quanto do sexo feminino.
“Ao identificar padrões de olhar que são estímulos relacionados especificamente ao amor, o estudo pode contribuir para o desenvolvimento de um biomarcador que diferencia os sentimentos de amor romântico dos de desejo sexual”, supõe o coautor do estudo John Cacioppo, diretor do Centro de Neurociência Cognitiva e Social dos EUA. “Um paradigma de rastreamento ocular pode eventualmente oferecer um novo caminho de diagnóstico na prática diária dos médicos ou para exames clínicos de rotina em psiquiatria e/ou terapia de casal”, prevê. [Science 20]

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Será a doença mais forte do que o amor? Estamos dispostos a adoecer junto com quem amamos?


RUTH DE AQUINO - 11/01/2013 22h56 - Atualizado em 13/01/2013 16h19
TAMANHO DO TEXTO

"Amor"

RUTH DE AQUINO




RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
Um título pode dizer muito ou nada. “Amor” é uma palavra batida e banalizada que ganha uma dimensão épica no filme indicado, na semana passada, a cinco estatuetas do OscarAmor, do diretor Michael Haneke, Palma de Ouro em Cannes, retrata um casal de octogenários, Georges e Anne, professores aposentados de música clássica. A história narra nossa impotência diante da doença e da morte. 

Em duas horas de cinema ou um ano de vida real, dois atores magistrais, Jean-Louis Trintignant, de 82 anos, e Emmanuelle Riva, de 85 (a belíssima protagonista de Hiroshima meu amor em 1959), nos transformam em passageiros da agonia humana. A agonia diante do sofrimento da pessoa que amamos. O que fazer quando o doente nos faz prometer que nunca mais será hospitalizado? Estamos dispostos a adoecer junto? Será a doença mais forte que o amor?

À exceção de uma cena de concerto, o filme se passa inteiro dentro do apartamento elegante e forrado de livros, com um piano na sala de estar. São idosos com cultura, dinheiro e prestígio. Vivem sós – sem empregados, como é o normal na Europa. O que mais nos encanta, quando Georges e Anne ainda estão sadios, não são as conversas sobre literatura e música, mas os olhares amorosos, os gestos de carinho, a cumplicidade nos atos mais cotidianos, como o café da manhã na cozinha. 
>>Leia também: Oscar 2013 já tem um vencedor: Michael Haneke

A rotina se quebra numa dessas manhãs, quando Anne sofre um AVC, acidente vascular cerebral. De repente, ela olha o vazio, não responde. O casal vai ao hospital, mas nós, espectadores, não. Na cena seguinte, Georges e Anne chegam de volta ao apartamento, ela de cadeira de rodas, com o lado direito paralisado e o orgulho ferido. “Quando adoecemos e ficamos imobilizados, passamos a viver entre quatro paredes. O mundo exterior desaparece”, diz Haneke. Nosso olhar profana a intimidade do casal, da cozinha ao banheiro, do banheiro à sala, da sala ao quarto, do quarto ao corredor. 
Será a doença mais forte que o amor? Estamos dispostos a adoecer junto
com quem amamos?  
Daí em diante, cama e móveis são adaptados às limitações de Anne. E Georges passa a viver em função dela. Ele se debilita aos poucos, até que Anne sofre um novo ataque, enfermeiras vêm e vão, e a música envolvente de Schubert é substituída por gritos dela: “Mal... mal... mal”. Na tradução literal, “dói... dói... dói”. E mais do roteiro não conto ao leitor, embora Haneke antecipe o final na primeira cena. Talvez para não encorajar ilusões.

O casal tem uma única filha, Eva (Isabelle Huppert), que vive no exterior, em Londres, com o marido, ao jeito das famílias contemporâneas globalizadas, em que os velhos vivem muito mais e os filhos, de longe, não conseguem ajudar sem virar suas vidas pelo avesso. Eva, em raras visitas, chega ansiosa, com muitas perguntas e nenhuma solução. “De que nos serve sua inquietação?”, pergunta o pai, friamente.

É um filme duro, e quem conhece a direção de Haneke – A professora de piano, A fita branca, Caché – sabe que esse austríaco nascido na Alemanha não dá brecha para a pieguice. “Quando escolhemos um tema universal, como amor, velhice e morte, há dois grandes perigos: o sentimentalismo e a autocomiseração. Não é por ser sentimental que alguém tem emoções, não se iluda!”, afirmou o diretor. 

Segundo as resenhas dos críticos, eu deveria ter chorado ao ver o filme na tarde fria de Paris na semana passada. Deveria, porque todo mundo chora. Talvez devesse ter soluçado, me acabado em lágrimas. Mas não. Meu pai e minha mãe têm 90 anos, estão no Rio. Meu pai acaba de sair de uma internação no hospital por pneumonia e minha mãe foi diagnosticada há dez anos com Alzheimer. Ela é linda, inteligente e ainda reconhece filhos e netos. Por mais cruel que seja a enfermidade da perda gradual da lucidez, continuam intactos seu instinto maternal e o ciúme que sente de meu pai. 

A realidade da minha família é tão mais branda do que vi na tela. Nossos momentos presentes precisam ser celebrados porque não se controla o amanhã. Amor é uma lição de vida, mais que de morte. 

Haneke não quis mostrar tudo, muito menos “os horrores e as humilhações” das clínicas de repouso, dos asilos ou das alas geriátricas dos hospitais. “Um filme onde tudo é dito está morto. Devemos nos aproximar ao máximo da complexidade de uma situação e deixar aberta a interpretação, para que o filme não termine na tela, mas na sua cabeça, no seu coração... ou no seu ventre.”

Há quem saia do cinema chocado pelas cenas mais duras do filme. Eu saí envolvida pelas cenas mais ternas. Quando Georges retira do banheiro Anne, já paralisada parcialmente, e a levanta, os corpos enlaçados, em pé, ambos arrastando os pés numa dança trôpega até a cadeira de rodas. Quando ela interrompe uma refeição e pede com urgência os álbuns de fotos da juventude a dois. Quando Georges vê a miragem de Anne tocando piano, o som de Schubert invade tudo e, repentinamente, ele desliga o aparelho de CD. Triste, simples, real e belo.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Marajó global: a ilha da fantasia | Lúcio Flávio Pinto - Yahoo! Notícias Brasil

Cartas da Amazônia 

Marajó global: a ilha da fantasia

 

A cena se deu faz poucos anos.
O jornalista chega a uma fazenda na ilha de Marajó, o centro de um arquipélago situado na foz do rio Amazonas, no litoral do Pará, com outros três milhares de ilhas de todos os tamanhos. A maior, com 50 mil quilômetros quadrados, supera, sozinha, em tamanho, quatro dos 27 Estados brasileiros.
É a maior ilha marítimo-fluvial do mundo. O emaranhado de água e terra é a teia de um labirinto a induzir mistério: o continente se esfrangalha ou a ilha é que volta a se agregar ao território continental?
O repórter conversa com um velho vaqueiro e seu filho, também vaqueiro. Ambos descendem de escravos africanos que chegaram à ilha com a pecuária, quase três séculos atrás. Faz pergunta ao pai, de quase 70 anos.
Mas o pai não responde ao jornalista. Responde ao filho, que repassa a resposta ao inquiridor, sob o olhar vigilante do pai, atento a qualquer desvio na "tradução" do que disse, à sua maneira, cantada e alegórica, muito viva.
É uma cena surrealista. Os três personagens falam a mesma língua, mas o vaqueiro mais novo age, convicto e cioso das suas prerrogativas, como intérprete do patriarca, envelhecido de tanto amansar gado. Antes eram animais das raças brancas, nos últimos tempos búfalos asiáticos.
É o maior plantel bubalino do Brasil. O animal mais cria do que é criado pelo homem, livre pelos campos gerais ou chafurdando na lama e nos alagados da época das chuvas pesadas. Quase anfíbio como o caboclo, que, na época das águas grandes, toca o rebanho não sobre um cavalo, mas na montaria dos rios amazônicos, a canoa.
O repórter pergunta ao vaqueiro ancestral onde, afinal, é o limite da fazenda sem fim visível, em cujas demandas curtiu a pele ao sol e perdeu o viço da expressão. As fazendas marajoaras se medem por milhares de hectares. A maior tinha 100 mil hectares antes de ser retalhada e vendida pelos herdeiros, como está acontecendo em ritmo incrementado na maioria delas.
As 30 famílias originais, que sucederam os religiosos no poder, quando o marquês de Pombal expulsou da Amazônia os incômodos jesuítas, estão deixando de ser as donas de toda a ilha, das suas riquezas, da sua gente. Mas ainda são os coronéis, os doutores, quase como senhores de baraço e cutelo, como numa Sicília tropical, isolada e fechada em si mesma.
— O limite da nossa fazenda é onde o nosso gado empurra o gado do vizinho — responde o vaqueiro, com a naturalidade de quem vê limites dessa maneira secular, sem cercas ou pontos astronômicos.
Como se os primeiros marajoaras mal tivessem se acomodado de uma inacreditável viagem pelos mares, entre continentes, sem passar pelo estreito de Bhering, há milhares de anos, em percurso direto, sem escala nas possessões de incas, maias, astecas e, pela força da tecnologia, espanhóis, do outro lado do mundo.
Não é essa a ilha do Marajó que a TV Globo exibe todos os dias da semana, às 18 horas, em sua telinha da fantasia. O Marajó platinado tem mais décor, mais gente bonita, de fala arrebitada (e decorada), de gestos olímpicos e andar cosmopolita. O Marajó das cenas da novela é perene como perfume barato e autêntico como uma nota de mil reais.
Não que seus produtores precisassem voltar ao passado e cultivar o naïf, tosco e primitivo. Como sempre, a Amazônia é o que sobre ela projeta seus desejos, preconceitos e instintos aquele que, do centro para a periferia, de cima para baixo, diz o que ela precisa ser, deve ser para ser aceita como a região tardia do Brasil, mal assimilada, mal aculturada.
O Marajó, esse pedaço de terra esmagado pelo maior rio do mundo e um oceano de águas fortes, não é mais aquele, como na música carnavalesca dúbia (pleonasmo em se tratando de carnaval). E não se sabe ainda o que será quando "aquele" for apenas memória, daqui a pouco.
Depois de muitos anos esquecido pelos seus conterrâneos continentais, o Marajó receberá um "grande projeto", como os que têm mudado a feição da Amazônia. Se tudo der certo, ainda neste ano a ilha receberá energia firme e abundante da hidrelétrica de Tucuruí.
A energia chegará através de uma linha de transmissão com mais de 1.100 quilômetros de extensão, ao custo de 490 milhões de reais. Concluída, colocará o Marajó dentro do Sistema Integrado de Energia, que se espalha por todo país. Fim de uma era. Início de outra.
Pode-se esperar uma grande transformação, embora ainda seja incerta a sua qualidade. Hoje, 40% dos 437 mil habitantes do Marajó vivem abaixo da linha da pobreza. O Índice de Desenvolvimento Humano da ilha é de 0,627 (o índice máximo é um), bem abaixo da média nacional, de 0,792.
Só 41% dos habitantes recebem energia, 80% desse mercado concentrado nas sedes municipais. É uma energia inconstante, fornecida por velhas usinas geradoras a óleo diesel, que exigem 32 milhões de litros de combustível a cada ano, ao custo de R$ 90 milhões. Além de poluírem o ar.
A chegada de energia segura e suficiente deverá ser a maior novidade dos últimos tempos no Marajó, capaz de tirá-lo da estagnação (ou mesmo da decadência) que o tem caracterizado.
Mas pode também agravar os seus problemas se desde agora não houver uma política conseqüente para o melhor uso da energia e a correção dos problemas que inevitavelmente acarretará.
O primeiro vem com a própria linha, aberta à base de novos desmatamentos e de eventual destruição de recursos naturais, arqueológicos e sociais no seu percurso, que constituem o maior patrimônio da ilha.
A economia do Marajó sofre distorções e interferências políticas que nada têm a ver com o interesse público. A dependência do governo é quase absoluta nos municípios mais pobres, talvez justamente por isso.
Dos 2.158 empregos no município de Portel, em 2008, 1.173 eram no serviço público; em 2006 eles somavam apenas 310. A relação em Curralinho era de 753 dos empregos totais para 709 do governo.
O crescimento da presença do governo nos últimos anos é mediada por clientelismo político e desvio de recursos públicos, a partir de programas de transferência de renda ou de apoio a atividades tradicionais. O caso mais exemplar é o da pesca,
O seguro/defeso, que visa proteger os cardumes na época da reprodução, remunerando o pescador durante esse período de quatro meses de inatividade, se tornou o maior instrumento político-eleitoral da ilha, além de possibilitar outros desvios.
Em Muaná, por exemplo, de 13 mil habitantes do município, oito mil foram cadastrados como pescadores para receber o seguro. A maior parte do peixe consumido no local, porém, vem de fora. De fora também chegaram muitos moradores urbanos para se metamorfosear em pescadores e receber o seguro.>> Leia mais >Marajó global: a ilha da fantasia | Lúcio Flávio Pinto - Yahoo! Notícias Brasil

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Família muda, casamento muda, amor muda...

http://revistaepoca.globo.com/Mente-aberta/noticia/2011/12/-familia-muda-e-o-amor-tambem.html


"Que seja infinito enquanto dure, dizia o poeta. E, para 243.224 casais brasileiros no ano passado, o divórcio abriu caminho para uma solteirice temporária ou uma nova união. O “até que a morte os separe” deixou de ser uma bênção. Amedronta. Alguns noivos pedem que se pule essa parte no sermão. Casamento é opção, não prisão perpétua. Recasar não significa começar de novo, mas continuar na mesma estrada..."


"...O psicanalista britânico Adam Phillips, autor de Monogamia, disse ao jornal Folha de S.Paulo que “amamos e odiamos um casamento feliz”, porque ele nos confronta com nossos desejos e nossas frustrações. Para Phillips, uma das raízes clássicas de conflito é o que os casais pensam da infidelidade eventual. “Todo mundo tem ciúme sexual, ninguém suporta dividir seu parceiro de sexo, isso é impossível”, diz ele. “Mas o perigo é a monogamia acabar com o desejo e virar uma prisão.” Eu, pessoalmente, não acredito na fidelidade eterna. A não ser que casemos aos 65 anos..."

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A corrida com o combustível do amor...

Comovente a reportagem do China Daily...!
Um filho economiza dinheiro correndo 30 quilômetros por dia para massagear sua mãe que necessidade de atendimento de fisioterapia

Sem economizar carinho....
A 19-year-old high school student in Yuzhou, Central China's Henan province, has been running 30 kilometers a day between home and school to save the 9-yuan ($1.4) fare, for two years, chinanews.com reported Friday.