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sábado, 11 de junho de 2016

"Dilma Rousseff não carecia de vontade, nem de interesse, nem de saúde para governar..." Roberto Pompeu de Toledo

Roberto Pompeu de Toledo: A outra tigrada

Dilma Rousseff não carecia de vontade, nem de interesse, nem de saúde para governar. Ao contrário, seu problema era querer governar demais. Governando em excesso, acabou por igualar-se a João Figueiredo

Por: Augusto Nunes  
Publicado na versão impressa de VEJA
Inflação em disparada, PIB em queda, dívida externa asfixiante ─ e a nau às cegas, sem rumo e sem comandante. Esse é o retrato do governo Figueiredo que A Ditadura Acabada, o quinto e último livro da série do jornalista Elio Gaspari sobre a ditadura militar, nos traz de volta. A palavra “governança” não estava em circulação, naqueles idos da primeira metade dos anos 1980, muito menos a palavra “narrativa”. Mesmo sem elas, ninguém duvidaria que a adequada narrativa para o período é que a governança entrara em colapso. Dizia em 1983 o general Golbery do Couto e Silva, que até dois anos antes fora o chefe da Casa Civil: “Figueiredo é uma pessoa que não tem vontade de dirigir o país, não está interessado em dirigir o país. E não tem saúde para dirigir o país”. (O presidente acabara de se submeter a uma operação cardíaca nos Estados Unidos.)
Caminha-se em terreno pantanoso quando se comparam períodos distintos. Por isso mesmo, é tentador arriscar. Dilma Rousseff não carecia de vontade, nem de interesse, nem de saúde para governar. Ao contrário, seu problema era querer governar demais. Governando em excesso, como presidente, ministra da Fazenda e em outras funções, e sempre mal, tantas fez que se esvaíram sua autoridade, sua credibilidade e seu governo. Acabou por igualar-se a Figueiredo. Dizia o então ministro do Planejamento, Delfim Netto, naquele mesmo ano de 1983, segundo revela o livro de Gaspari: “É lamentável, não temos presidente, não temos governo”. Disse Delfim Netto semanas atrás, nos estertores do governo Dilma: “O presidencialismo precisa de presidente. Não funciona sem presidente”. Revisitar o período Figueiredo é relembrar que no Brasil “a crise terminal”, “a maior crise da história” e “a beira do abismo” se repetem monotonamente.
Figueiredo foi devorado pela “tigrada” ─ e agora mudamos de comparação, do governo Dilma para o governo Temer. O pessoal que agia nos porões da ditadura, a sujar as mãos com a tortura e os atentados a bomba, é o protagonista por excelência de A Ditadura Acabada, se é que se pode chamar um “pessoal” de protagonista. No tempo de Figueiredo não havia mais o terrorismo de esquerda, mas a tigrada continuava em ação. Queria atrapalhar a política de “abertura”. Jogava bombas contra alvos da esquerda ou de defensores dos direitos humanos, como a sede carioca da OAB. Nem nesse caso, que provocou a morte da secretária Lyda Monteiro, o governo se propôs a uma investigação séria. A impunidade a torturadores e terroristas de direita seguiu inabalável até o mais clamoroso dos episódios do gênero, o atentado do Riocentro, em que uma bomba estourou no colo do sargento que rondava o local enquanto se realizava um show de música popular.
O Riocentro representou para Figueiredo uma tragédia política e pessoal. A política foi a falência de um governo que, mesmo diante da evidência da preparação em suas entranhas de um atentado capaz de causar um morticínio, insistiu na postura de acobertamento do crime e de proteção dos criminosos. A pessoal pode ter como fundo musical a bela letra de Aldir Blanc para a canção Cabaré, em que, num ambiente de “lentas luzes de neon” e “flores murchas de crepom”, se percebe “no drama sufocado em cada rosto / a lama de não ser o que se quis”. Figueiredo tinha-se como valente e intimorato. Alardeava que iria “prender e arrebentar” quem se opusesse à abertura. Acovardou-se, no entanto, e submeteu-se à tigrada. Não conseguiu ser o que quis. Afundou a partir daí na amargura e na inação.
Michel Temer lida com outro tipo de tigrada, a dos corruptos que rugem em sua selva. Dois ministros já se foram, e nos dois casos tentou protegê-los. Enquanto repete promessas de apoio à Operação Lava-Jato, honra os implicados com sua atenção. O ministro Geddel Vieira Lima fez na semana passada, segundo descobriu o Estadão, visita secreta ao presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha. O presidente do Senado, Renan Calheiros, que havia indicado o destronado ministro da Transparência, foi obsequiado com uma consulta antes da nomeação do sucessor. Temer não está entendendo que a tigrada é pegajosa. Gruda em suas presas, torna-as cúmplices e reféns. No fim, como ocorreu com Figueiredo, devora-as.
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