Postagem em destaque

MALDADE É O PROJETO Blue .beam ...

*O PROJETO BLUE BEAM: Já soube que os governos estão admitindo os OVNIs e há vários movimentos atuando para a implantação de uma religião gl...

quarta-feira, 1 de março de 2017

Aos 50 anos, rei Kazu, continua calçando chuteiras e jogando futebol

Kazu, 50 anos: o aprendiz que veio ao Brasil com um sonho e voltou ao Japão para ser rei

  http://flip.it/GxMS58
Kazu Miura escreveu (e ainda escreve) uma história ímpar no futebol. De tão incrível, sua trajetória por vezes costuma ser comparada à de Oliver Tsubasa – por mais que a verdadeira inspiração de ‘Super Campeões’ seja outro jogador japonês. Ainda assim, a epopeia vivida pelo atacante possui capítulos tão sensacionais que nem mesmo o anime ou o mangá foram capazes de imaginar. Miura saiu do Japão para desenvolver seu talento no Brasil e, quando voltou, se transformou em um dos maiores craques da história da Ásia. É reverenciado nos gramados nipônicos por quase três décadas, como segue acontecendo até hoje. Neste domingo, o ‘Rei Kazu’ comemorou 50 anos do jeito que mais gosta: calçando chuteiras, vestindo a camisa do Yokohama FC e vencendo seu jogo na rodada inaugural da segunda divisão da J-League. Obviamente, para receber as honras dignas de um rei.
A aventura de Kazu começa graças a um pai apaixonado por futebol. Nabuo Naya era um homem rico, herdeiro de uma cadeia de lojas. Encontrou tempo para incentivar o sonho de jovens jogadores, ao criar a Associação Nipo-Brasileira de Intercâmbio Futebolístico. A partir de 1982, começou a trazer os aspirantes do Japão ao Brasil, abrindo portas para que pudessem aprender um pouco da arte exibida nos gramados daqui. Sua cobaia, aliás, foi o próprio filho. Kazu desembarcou no país um tanto quanto mirrado, aos 15 anos, e sem falar mais do que o básico em português. Passou alguns meses no Juventus, até se mudar para o interior. O XV de Jaú fazia um trabalho referendado nas categorias de base. O ambiente perfeito para o habilidoso atacante se desenvolver.
Kazu se juntou aos juniores do Galo da Comarca no final de 1984. Teve seus momentos de provação, pensando em retornar ao seu país. Mas sua motivação vinha ao observar as crianças correndo atrás da bola nas ruas. Em 1985, excursionou com outros garotos do XV de Jaú ao Japão. Já em novembro daquele ano, aos 18, estreou pelos profissionais. Entrou no segundo tempo de um jogo pelo Campeonato Paulista, no qual o clube do interior venceu o Palmeiras por 3 a 2. Também participou da Copa São Paulo de 1986.
A partir de então, Rei Kazu passou a rodar pelo país, tentando se firmar. Teve uma breve passagem pelo Santos, clube com o qual seu pai havia feito parceira, montando uma verdadeira colônia nipônica na base – incluindo o outro filho, Yasutoshi, dois anos mais novo que Kazu e que pouco depois voltaria para Tóquio, defendendo o Yomiuri. O craque da família, no entanto, não durou muito tempo na Vila Belmiro. Passou pelo Palmeiras, disputando a Copa Kirin em seu país. Também defendeu o Matsubara, clube estabelecido por uma família de imigrantes japoneses. No entanto, sua eclosão no futebol brasileiro aconteceria a partir de julho de 1987.
Vestindo a camisa do CRB, Kazu se transformou em fenômeno no Campeonato Alagoano. O japonês veloz e de dribles insinuantes ganhou a simpatia dos torcedores alvirrubros. E deu sua contribuição na reta final do título estadual, assim como no Módulo Branco do Campeonato Brasileiro. Em 1988, voltaria ao XV de Jaú, para ser idolatrado no Estádio Zezinho Magalhães. Seu primeiro gol pelo clube, aliás, veio em grande estilo: abriu o caminho para a vitória por 3 a 2 sobre o Corinthians, pelo Campeonato Paulista. Tento que rendeu muito repercussão não só no Brasil, mas também no Japão, com o jovem atacante figurando nos jornais de lá.
Nos últimos meses de 1988, Kazu foi contratado pelo Coritiba. No Alto da Glória, viveu os seus melhores momentos no Brasil. Sob a confiança de Valdir Espinosa, figurou entre os melhores pontas do Campeonato Brasileiro, concorrendo até mesmo à Bola de Prata da revista Placar. Uma das suas partidas mais emblemáticas aconteceu contra o Sport: saiu do banco de reservas e infernizou a defesa rubro-negra com uma porção de dribles, até cruzar para Roberson anotar o gol da vitória. Após a partida, o nipônico explicou que se inspirava em Garrincha, assistindo aos vídeos do eterno camisa 7. Na capital paranaense, ainda conquistou o estadual em 1989, arma recorrente na equipe treinada por Edu – irmão de Zico, outro homem que elevaria o futebol japonês de patamar.
A última passagem de Kazu no futebol brasileiro ocorreu, mais uma vez, com a camisa do Santos – enfim, realizando o sonho de se firmar entre os profissionais do Peixe. Sua reestreia veio em fevereiro de 1990, pelo Campeonato Paulista. Já na partida mais marcante, dois meses depois, o japonês foi titular no ataque durante o clássico e anotou o gol que abriu a vitória por 2 a 1 sobre o Palmeiras. Por isso mesmo, ganhou o apelido de “Exterminador Verde” da torcida santista.
O retorno de Kazu Miura ao Japão aconteceu ainda em 1990. Voltou ao país para ajudar a desenvolver o futebol, prestes a se tornar profissional, e a seleção. Acabou coroado também como rei. O atacante integrou o forte Yomiuri, ao lado do irmão Yasutoshi e do reverenciado Ruy Ramos. Virou protagonista em um time já multicampeão, passando da ponta esquerda ao comando do ataque e ressaltando sua veia artilheira. Do Brasil, além da experiência e do amadurecimento, levou também a alegria na comemoração dos gols, com sua tradicional dancinha – inspirada em Careca. Conquistou os dois últimos títulos do Campeonato Japonês antes da profissionalização e se ratificou como craque na primeira edição da J-League, em 1993. Não contente em ser campeão com o rebatizado Verdy Kawasaki e em marcar o tento do título sobre o Kashima Antlers de Zico, também foi eleito o melhor jogador da competição e do continente naquele ano. Fez 20 gols em 36 partidas na campanha vitoriosa.
Ao mesmo tempo, Rei Kazu brilhava na seleção japonesa. Sua estreia aconteceu em 1990 e, dois anos depois, já faturava o inédito título da Copa da Ásia, dono da camisa 11 na equipe de Hans Ooft. Mas o ápice ficou guardado para as Eliminatórias da Copa do Mundo de 1994. O atacante assinalou nove tentos nas etapas preliminares, até o hexagonal decisivo disputado no Catar. Balançou as redes mais quatro vezes. Inclusive no famoso empate com o Iraque por 2 a 2 na última rodada, que acabou tirando os Samurais Azuis do Mundial por conta de um gol sofrido aos 46 do segundo tempo. O craque também simbolizou a famosa “Agonia de Doha”.
Se não viajou aos Estados Unidos em 1994, Kazu ao menos fez história na Itália, a partir de agosto daquele ano. Tornou-se o primeiro japonês a entrar em campo pela Serie A, contratado pelo Genoa. Sua estadia no Estádio Luigi Ferraris, contudo, não foi das mais felizes. Fraturou o nariz logo em sua estreia, contra o Milan, após um choque com Franco Baresi. Reserva durante a maior parte da temporada, anotou um gol, justamente no clássico diante da Sampdoria, o que não evitou a derrota por 3 a 2. Independentemente disso, sublinhou seu papel como embaixador do futebol asiático ao resto do planeta – além de realizar um desejo, morando na terra de ‘O Poderoso Chefão’, trilogia da qual é fanático. Em 1995, retornou ao Verdy Kawasaki, sem ser campeão, mas empilhando gols na J-League. Inclusive, foi artilheiro do campeonato em 1996.
Kazu continuava arrebentando na seleção japonesa, por mais que o elenco tenha se desmanchado desde o trauma em Doha. Os nipônicos começaram a bater de frente contra seleções europeias e latino-americanas, com o astro liderando vitórias sobre adversários como Uruguai, México, Equador, Croácia, Iugoslávia e Polônia. Em 1996, integrou até mesmo na ‘seleção do mundo’ que disputou amistoso contra o Brasil. E quando surgiu a segunda chance de disputar uma Copa do Mundo, o Rei Kazu se esforçou. Foi ainda mais destrutivo nas Eliminatórias, anotando 14 gols – quatro deles em uma mesma partida da fase final, contra o Uzbequistão. E estava em campo para desfrutar do “Júbilo de Johor Bahru”, o jogo-extra em que os Samurais Azuis derrotaram o Irã por 3 a 2, com um gol de ouro no segundo tempo da prorrogação. O país comemorou pela primeira vez a classificação a um Mundial.
Todavia, Kazu não foi convocado à Copa de 1998. Chegou a ser pré-selecionado ao elenco de 26 jogadores, mas acabou cortado em maio, em decisão bastante contestada (e até hoje considerada inexplicável) do técnico Takeshi Okada. Diante da fraca participação na França, o comandante acabou demitido. E, aos 31 anos, o atacante fez apenas mais algumas aparições esparsas na equipe nacional. Encerrou sua trajetória com 55 gols em 89 jogos. Precisou se contentar com a Copa do Mundo de Futsal de 2012, integrando o elenco nipônico aos 45 anos.
Depois da frustração com Okada, Kazu se aventurou mais uma vez pelo futebol europeu. Jogou pouco pelo Croatia Zagreb (atual Dinamo), mas faturou o título nacional. Até estabelecer novamente o seu reinado eterno no Campeonato Japonês. Atuou por Kyoto Purple Sanga e Vissel Kobe, até assinar com o Yokohama FC em 2005. Naquele mesmo ano, teve uma rápida passagem pelo Sydney FC, compondo ataque ao lado de Dwight Yorke. A partir de então, defendeu apenas as cores do Yokohama. Auxiliou o time no acesso à primeira divisão da J-League em 2006, permanecendo por uma temporada. E, apesar da realidade modesta da segundona durante a maior parte do tempo, Rei Kazu não se afastou do status de lenda. Pelo contrário, apenas o renova, ano a ano.
Aos 50 anos, Kazu ainda desfruta de sua maior paixão. Pode não exibir os mesmos dribles deslumbrantes e o mesmo faro de gols de outros tempos, mas sua principal virtude permanece intacta: o caráter. A vontade de fazer o seu melhor e vencer. Enquanto as pernas ainda aguentarem, ele estará lá, de chuteiras. Neste final de semana, durante as homenagens pelo meio século de vida, foi enfático: “Já cansei de falar o quanto eu amo o futebol. Desde criança era a única coisa que eu fazia. Pretendo ficar na ativa enquanto meu corpo e minha paixão permitirem. Estar em campo aos 50 anos junto com meus companheiros é uma alegria muito grande. Acho que vou tentar seguir assim até os 60”. Vida longa ao rei.



Nenhum comentário:

Postar um comentário