quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Bonita e perigosa / Copacabana teve 123% de aumento em violência

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Copacabana sofre com avanço da população de rua e aumento de 123% nos assaltos a pedestres

Censo inédito mostra que 279 pessoas vivem nas ruas do bairro. Moradores pedem mais policiamento
POR BRUNO AMORIM E RAFAEL NASCIMENTO
11/09/2014 5:00


Enrolada num cobertor, uma pessoa dome num dos bancos do Bairro Peixoto: presença de moradores de rua eleva clima de insegurança no lugar - Guilherme Leporace / Agência O Globo

RIO — Quando o assunto é o aumento da violência em Copacabana, tema comum nas rodinhas de vizinhos, a administradora Márcia Maia, de 56 anos, recorre a uma história surreal vivida por sua filha na saída de uma sorveteria do bairro. Cercada por ladrões e sem condições de reagir, a menina foi obrigada a entregar o sorvete. Segundo Márcia, que mora em Copacabana, agora a jovem anda pelas ruas assustada. O sentimento é o mesmo de outros moradores do bairro, que viram as últimas estatísticas de roubos saltarem: em julho, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), foram 85 assaltos a pedestres na área do 19º BPM — que abrange Copacabana e Leme —, contra 38 no mesmo mês de 2013 (um crescimento de 123%).

Na comparação com áreas vizinhas, fica mais evidente a gravidade do problema. O número de casos de julho passado em Copacabana é ainda maior que a soma de ocorrências — 83 — em oito bairros, incluindo Leblon e Ipanema, cobertos pelo 23º BPM.

Márcia contou o drama vivido pela filha.

— Um bando de adolescentes a cercou e roubou seu sorvete. Parece cômico, pode ser engraçado para alguns, mas eles foram violentos. Para minha filha, foi assustador. Virou um trauma — conta ela, acrescentando que a presença de moradores de rua amplia o medo de quem vive no bairro. — Nos últimos meses, notamos um aumento da população de rua no bairro, do número de pivetes e do consumo de crack nas esquinas. Isso, logicamente, acaba se refletindo na sensação de insegurança. Já procuramos o comando do batalhão da área, pedindo mais policiamento.

O advogado Horácio Magalhães, presidente da Sociedade Amigos de Copacabana, afirma que o aumento na estatística de roubos no bairro não é surpresa para os moradores:

— Nas ruas, a percepção já era essa. E todos no bairro notaram um aumento considerável no número de moradores de rua. O perfil mudou: há muita gente que está nas ruas com um histórico de crimes nas costas. Há bandidos ali também — afirma o advogado.

MAIS TURISTAS NO BAIRRO

Horácio ressalta que em julho, durante a Copa do Mundo, a Praia de Copacabana recebeu a Fifa Fan Fest, evento que levou milhares de turistas à região.

— Grandes eventos trazem coisas boas e ruins. O grande número de turistas contribuiu, certamente, para atrair ladrões para o bairro — diz.

Para o advogado Antônio Rayol, delegado federal aposentado, há ainda outra explicação: os traficantes que ficaram “desempregados” com a instalação de UPPs nas favelas da Zona Sul e que agora estariam praticando crimes no asfalto.

— Os números do ISP refletem, na minha opinião, um conjunto de fatores: turistas em grande quantidade e traficantes em busca de fontes de recursos. Ou seja: é possível dizer que o aumento no número de roubos de rua pode ter relação com a realização da Copa, o grande número de turistas no bairro e bandidos despejados de suas favelas, agora buscando lucros no asfalto — afirma Rayol.


Um censo inédito, realizado no ano passado pela Secretaria municipal de Desenvolvimento Social, com o apoio do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), mostra que em Copacabana 279 pessoas vivem nas ruas. Do total, 80% são homens, 69% estão há mais de um ano nessa situação no bairro e 45% vieram de outros municípios ou estados. Como a pesquisa é inédita, não há números anteriores para serem comparados.

Nem o Bairro Peixoto, área encravada em Copacabana que sempre foi vista pelos cariocas como uma ilha de tranquilidade, foge dos problemas. A presença de população de rua é a principal queixa, frequentemente associada ao clima de insegurança. Já há quem, após o pôr do sol, evite as pracinhas e as ruas do Bairro Peixoto, tradicionalmente admirado pelo seu ar bucólico, que parece herdado dos tempos em que era uma chácara.

À noite, as praças ficam tomadas por moradores de rua. Na madrugada da última terça-feira, pelo menos oito foram flagrados por uma equipe do GLOBO. Dois deles, agasalhados e com cobertores, dormiam em bancos da Praça Edmundo Bitencourt. Os outros conversavam na Travessa Moacyr Deriquém. Pela manhã, cerca de dez eram vistos no Bairro Peixoto.
Estudantes passam por um morador de rua na Praça Vereador Rocha Leão - Pablo Jacob / Agência O Globo

Presidente da Associação de Amigos e Moradores do Bairro Peixoto (Oásis), Marcos Coutinho também diz que há uma percepção de crescimento do número de moradores de rua na região.

— O Bairro Peixoto é um local diferenciado, com muitos bancos e chafariz, e acaba trazendo facilidades para eles. Em dias de feira, o número é ainda maior. Além disso, moradores e comerciantes da região dão dinheiro, comida e roupas a eles, o que é um erro. O maior problema, no entanto, são os criminosos que se infiltram entre os moradores de rua para cometer delitos, como furtos e assaltos — afirma.

Morador da área, o administrador Marcelo Kauffmann reclama do estado de abandono em que se encontra a Praça Edmundo Bitencourt:

— Estamos testemunhando o fim de um paraíso em meio ao caos de Copacabana. Nossa praça está entregue aos moradores de rua, que fazem até sexo no lugar, próximo de idosos e crianças.

Raquel Pereira vive no Bairro Peixoto há pouco mais de um ano. Ela procurava a famosa tranquilidade, mas encontrou um cenário diferente:

— Já não trago meu filho para a praça depois que escurece, por causa dos moradores de rua, que também estariam praticando assaltos. Na Travessa Moacyr Deriquém, eu só passo acompanhada.

— De noite, a praça fica cheia de usuários de drogas, que assaltam quem passa — afirma o aposentado Francisco Carvalho, que mora na área.

SECRETÁRIO NEGA AUMENTO



A PM informou, por meio de nota, que a segurança do Bairro Peixoto é feita com carros de polícia e uma cabine na saída do Túnel Velho. A corporação não disse quantas ocorrências foram registradas nos últimos meses somente na área. Já a Secretaria municipal de Desenvolvimento Social informou que faz o monitoramento diário da população de rua no Bairro Peixoto. O trabalho de abordagem é realizado por equipes compostas por assistentes sociais, psicólogos e educadores sociais, tanto de dia quanto de noite. O secretário municipal de Desenvolvimento Social, Adílson Pires, considera expressivo o número de moradores de rua em Copacabana, mas diz que não houve aumento.

— Durante a Copa do Mundo, o bairro ficou lotado de turistas, e os moradores de ruas acabaram se misturando aos visitantes. Quando acabou a Copa, os turistas foram embora, e a população de rua voltou a ficar aparente. Nossa maior dificuldade é convencer essas pessoas a irem para os abrigos. Quando chegam lá, muitos vão embora. Não podemos manter os portões fechados — disse o secretário.

A secretaria promete para o ano que vem um plano de desenvolvimento individual das pessoas acolhidas para que, num prazo de noves meses, deixem os abrigos com a vida reestruturada.



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