quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

"Invasão natalina" / Luísa Leme / Blog Ricardo Noblat

Enviado por Luisa Leme - 
19.12.2013
 | 
14h02m
GERAL

Carta de Nova Iorque: Invasão natalina, 


por Luisa Leme

Natal em Nova York, como eu já contei um pouco aqui, é cheio de tradições. A decoração da quinta avenida, a árvore do Rockfeller Center, e as luzes que se multiplicam nas vitrines, nas ruas, nos arranha-céus sisudos e nas residências do Queens, do Brooklyn, do Bronx...nas janelas de cada apartamento em Manhattan. Quem chega em Nova York em dezembro com o avião pousando durante a noite, no escuro, logo percebe que a cidade está piscando. São as luzes de Natal.
Mas uma tradição que sacode um pouco mais Nova York nessa época do ano, causando uma boa bagunça e até polêmica, é o Santacon — uma bebedeira natalina. Todo ano a surpresa vem dez dias antes do Natal em dezembro e as milhares de pessoas que fazem a festa acontecer se orientam pela Internet, já que o evento é organizado anonimamente.
A invasão de pessoas vestidas de Papai Noel, duendes e afins começa logo de manhã e a festa promete uma maratona entre os bares da cidade. Para quem anda por Manhattan no dia do Santacon, é muito fácil ver as ruas, o metrô e as praças (principalmente nos bairros mais ao sul de Manhattan) tomados por verdadeiros blocos de “foliões” vestidos de papai Noel.
Um aviso: encontrá-los é mais legal se for de manhã, quando todo mundo ainda está mais sóbrio e a brincadeira possui um pouco mais de coordenação motora.


A “invasão vermelha” ganhou má fama entre os nova-iorquinos, já que a bagunça é digna de pipoca carnavalesca e pessoas sem vontade de ser Santa Claus por um dia precisam conviver com os efeitos colaterais da festa.
Este ano, alguns moradores do Lower East Side (onde os bares estão a cada esquina) colocaram avisos nas portas pedindo para que os Papais Noéis ficassem longe de suas casas neste último sábado.
Depois de dar um pouco de trabalho para a polícia em 2012, a organização do Santacon – que começou em 1994 em São Francisco com o nome de Santarchy, como um protesto contra o consumismo desenfreado durante as festas de fim de ano – compartilhou o roteiro da festa pela primeira vez com a polícia de Nova York.
A maratona pelos bares da cidade ganhou um banho de água fria das autoridades, com ordens proibindo bebidas em alguns trens, avisos pedindo precaução para os bares que alimentam a sede dos Papais Noéis, e muitos policiais nas ruas.
A lista de regras sobre não assustar crianças e não beber mais do que for possível aguentar ganhou novos itens como não urinar nas ruas (de acordo com o site, o ato não é só ilegal: a lei também considera o autor do crime um agressor sexual), não deixar lixo nos bares, não iniciar brigas, e respeitar mulheres que dizem “não”. Aqui Papai Noel bagunceiro também vai preso se for pego bebendo ou arrumando confusão na rua.
Mesmo assim, neste último sábado, milhares de Santas aproveitaram o dia de bar em bar, debaixo de neve e com uma sensação térmica de dez graus negativos em Nova York. Papai Noel do Santacon não sente frio.
E para participar basta doar U$10,00 (destinados a instituições de caridade na cidade), trazer dinheiro em espécie já que os bares no roteiro não aceitam cartão de crédito, e um passe de metrô que dure o dia inteiro. Em 2012, a festa arrecadou mais de U$45.000,00 e quase 4.600 quilos de comida enlatada.


Luisa Leme é jornalista e produtora de documentários. Passou pela TV Cultura e TV Globo em São Paulo, e pelas Nações Unidas em Nova York. Mora nos Estados Unidos há sete anos e fez mestrado em relações internacionais na Washington University in St. Louis. Escreve aqui sempre às quintas-feiras. Mantém o blog DoubleLNYC com imagens e impressões sobre Nova York. Twitter: @luisaleme

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