A partir da semana que vem, o julgamento do mensalão no STF terá
uma claque que vai reagir aos argumentos dos advogados dos réus, 
manifestando surpresa, incredulidade ou admiração.

BIENAL DO LIVRO – Advogados dos réus do mensalão irão lançar um livro de poemas no final do julgamento. O volume, cujo título provisório é Mensalão-lão-lão: um Momento de Poesia numa Obra Rigorosa, será patrocinado pelo Banco Rural e será beneficiado pela lei de incentivo fiscal. “Reuniremos os momentos mais líricos e épicos da defesa”, disse Marcio Thomaz Bastos, ao anunciar que que vai concorrer a uma vaga na Academia Brasileira de Letras.

A seu lado, José Carlos de Oliveira Lima, o Juca, que defende José Dirceu, declamou versos feitos pelo seu cliente: “Batatinha quando nasce/ Esparrama pelo chão/ Juro por minha mãezinha/ Que nunca brinquei de mensalão”. Trajando toga, todos os advogados aplaudiram o momento elevado.
Os advogados dos réus começaram a manifestar sua veia poética com timidez, com citações discretas a Chico Buarque ou Carlos Drummond de Andrade. Animados com a receptividade da audiência, aos poucos se sentiram mais à vontade para arriscar versos de sua própria lavra. O auge veio na tarde de ontem, quando o advogado do ex-deputado Pedro Corrêa concluiu sua defesa com a seguinte tirada: “Juiz, juiz, juiz/ Juiz da toga preta/ Solta o deputado/ Que nada tem na maleta”.
“Esses versos deixam transparecer um profundo domínio da métrica e da construção formal poética, sem perder de vista o envolvimento visceral com o tema abordado”, avaliou o crítico Davi Arrigucci Jr., que está acompanhando o julgamento pela TV. “Forma e conteúdo se fundem aqui numa plena tradução do momento grave que a nação vive”, entusiasmou-se. “Temos o privilégio de ver uma nova página da história da poesia brasileira ser escrita em tempo real”.

A organização da Flip anunciou que a próxima edição da festa literária terá uma mesa dedicada à poesia jurídica. Os nomes de Márcio Thomaz Bastos e Kakay já estão confirmados. Convidado para mediar o encontro, o ex-ministro do STF Eros Grau condicionou sua participação à leitura de trechos de seu romance libidinoso O Triângulo no Ponto.

Ao fim da audiência de ontem no STF, um emissário do ECAD apresentou a Joaquim Barbosa um boleto de cobrança pelas citações aos versos de Chico Buarque.