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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Todo Prosa / Sergio Rodrigues

16/04/2012
 às 16:20 \ Pelo mundo

Eagleton: Literatura existe e tem cinco ingredientes

Meu próprio entendimento é que, quando as pessoas chamam hoje em dia algum texto de literário, elas geralmente têm em mente uma de cinco coisas, ou alguma combinação entre elas. O que elas querem dizer com “literário” pode ser um trabalho que seja ficcional; que comporte uma medida significativa de intuição sobre a experiência humana, em oposição ao relato de verdades empíricas; que use a linguagem num registro peculiarmente elevado, figurativo ou autoconsciente; que não seja pragmático no sentido em que listas de compras o são; ou que seja altamente valorizado como exemplar de escrita.
O novo livro do crítico literário inglês Terry Eagleton – que brilhou como o grande provocador da Flip há dois anos, conforme relatado na época aqui – chama-se The event of literature (“O evento da literatura”) e traz uma surpresa não só para quem tem alguma familiaridade com sua obra como para qualquer pessoa que costume acompanhar, mesmo de longe, as conversas no ambiente cada vez mais rarefeito da crítica literária acadêmica.
Eagleton afirma que, pensando bem e diferentemente do que vinha sustentando até aqui, é possível, além de desejável, definir de forma universal o que é literatura, sim. Para tanto basta introduzir nas lucubrações puramente teóricas uma medida de “senso comum”. As cinco linhas de força que ele considera constitutivas do “literário”, apresentadas sumariamente no trecho acima, são a ficcional, a moral, a linguística, a não-pragmática e a normativa. Para mais detalhes, vale a pena ler a resenha (em inglês) publicada no “Guardian” por Stuart Kelly.
No mínimo, o esforço de Eagleton me parece ter o mérito – utópico? – de buscar reaproximar dois campos que, de algumas décadas para cá, deixaram de se falar: os críticos universitários para os quais a literatura simplesmente não existe e os leitores, que reafirmam no dia a dia a existência da literatura e ficariam muito surpresos se lhes dissessem que existem críticos universitários.

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